Displasia Cemento-Óssea Florida: o que os exames de imagem podem revelar

A Displasia Cemento-Óssea Florida (DCOF) é uma alteração óssea benigna que, embora ainda pouco conhecida por parte dos pacientes, pode ser identificada por radiologistas no Brasil, especialmente durante exames de rotina. Sua prevalência é mais alta entre mulheres negras e asiáticas, com idade entre 40 e 60 anos, refletindo um perfil comum na população brasileira, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste.

Uma condição silenciosa, mas visível aos olhos da radiologia odontológica

A DCOF faz parte das chamadas lesões fibro-ósseas, nas quais o osso normal é progressivamente substituído por tecido conjuntivo fibroso, que se mineraliza com o tempo. Essa evolução é facilmente percebida por meio de radiografias panorâmicas e, com maior precisão, pela tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) — exame amplamente utilizado na radiologia odontológica brasileira.

Nos consultórios e clínicas de radiologia do país, casos de DCOF são identificados com certa frequência em exames solicitados por dentistas, mesmo na ausência de sintomas. Isso reforça o papel essencial dos exames de imagem no diagnóstico precoce e no acompanhamento da evolução da doença.

Estágios radiográficos e características clínicas

 

A condição apresenta três fases principais:

  • Estágio I – hipodenso: o osso é substituído por tecido fibroso de baixa densidade;

  • Estágio II – misto: surgem áreas mineralizadas hiperdensas com halo periférico hipodenso;

  • Estágio III – hiperdenso: predomínio de tecido mineralizado denso, com aspecto lobular e pouca vascularização.

As lesões são multifocais, acometendo geralmente as regiões periapicais dos dentes — mesmo os vitais — e também podendo estar presentes em áreas edêntulas. Ainda que, na maioria das vezes, não causem dor ou deformidade, a DCOF pode se tornar crítica em caso de infecções secundárias, principalmente porque as áreas mineralizadas são densas, avasculares e com baixa capacidade de reparo.

Em razão disso, biópsias e procedimentos cirúrgicos invasivos são desaconselhados, pois podem agravar o quadro e gerar complicações como osteomielite — condição já documentada em relatos clínicos brasileiros.

O olhar atento do radiologista odontológico brasileiro

 

A experiência acumulada em clínicas de imagem no Brasil tem demonstrado que a radiologia odontológica desempenha papel crucial no controle da DCOF, permitindo o monitoramento da sua evolução sem a necessidade de intervenção invasiva.

O protocolo mais adotado é o acompanhamento clínico com exames radiográficos anuais e reforço nas orientações de higiene bucal. A atuação preventiva é fundamental, especialmente em um país com ampla diversidade étnica e socioeconômica, onde o acesso ao diagnóstico precoce pode variar.

Relato de caso: diagnóstico por imagem no contexto brasileiro

 

Um exemplo típico é o de uma paciente brasileira, melanoderma, de 50 anos, que realizou uma TCFC de rotina. Assintomática, ela apresentava múltiplas lesões em maxila e mandíbula. A imagem revelou lesões mistas (estágio II) na mandíbula e densamente hiperdensas (estágio III) na maxila, compatíveis com a evolução clássica da DCOF.

Casos como esse são comuns no dia a dia dos radiologistas brasileiros, que cada vez mais se tornam protagonistas na detecção e no manejo clínico da doença — muitas vezes antes mesmo que o paciente perceba qualquer alteração.

Referências

  • COSTA, T. S. et al. Displasia cemento-óssea florida: revisão de literatura. Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida, v. 17, n. 1, p. 6, 2025.

  • MASCARENHAS, A. C. M. et al. Displasia cemento‑óssea florida: relato de três casos clínicos envolvendo ambos os maxilares. J Multidiscipl Dent. 2021;11(3):173–182.