Canal C-SHAPED: um desafio endodôntico

Já ouviu falar no canal C-shaped?

 O canal C-shaped é uma configuração anatômica onde o conduto radicular tem literalmente o formato da letra “C”. Ele surge em dentes que passaram por fusão parcial ou total das raízes mesial e distal, formando uma raiz única com um canal bem peculiar. O motivo para essa variação foi suposto por Manning como uma falha na bainha epitelial de Hertwing em se fundir (Wadhwani et al., 2017).

Prevalência desse tipo de conduto

Você vai encontrar esse tipo de canal, principalmente, nos segundos molares inferiores.

Mas não é só uma questão de localização: a prevalência é maior em mulheres e em pessoas da população asiática, especialmente chinesa. No entanto, ele pode aparecer em qualquer paciente, e exatamente por isso a interpretação tomográfica é tão importante.

 A morfologia dos canais C-shaped é bastante complexa e aparece com maior frequência nos segundos molares inferiores. Essa variação anatômica apresenta influência populacional e sexual, sendo mais comum em pacientes do sexo feminino e em pessoas da população asiática, especialmente chinesa. No entanto, ele pode aparecer em qualquer paciente, e exatamente por isso a interpretação tomográfica é tão importante.

Mas, nem todo C é igual: conheça a classificação

Fan et al. (2004) classificou os canais C Shaped em: 

C1 – canal radicular em forma de C, sem interrupções, separações ou divisões 

C2 – canal em ponto e vírgula  

C3 – dois ou três canais radiculares separados 

C4 – canal radicular único 

C5- ausência do lúmen no canal radicular (o canal não é visível)

Desafios no tratamento endodôntico

A anatomia desafiadora desses canais, com regiões estreitas e trajetos irregulares, favorece o acúmulo de fragmentos pulpares, microrganismos e detritos dentinários. Esses fatores podem dificultar a limpeza completa e comprometer o resultado satisfatório do tratamento endodôntico. Entre as principais dificuldades, destacam-se:

 

1️⃣ Anatomia complexa 

  • O formato em “C” pode variar ao longo do comprimento radicular, por exemplo: pode começar como ponto e vírgula e depois virar um “C” contínuo. 
  • Essa mudança de configuração dificulta a localização e instrumentação de todos os trajetos do conduto.

2️⃣ Dificuldade de instrumentação 

  • Como o canal não é circular e as vezes não é uniforma, a lima pode não instrumentar todas as paredes de forma igualitária.
  • Risco de fratura de instrumento

3️⃣ Obturação desafiadora

  • A forma não circular do canal dificulta a adaptação do material obturador.

Tratar um canal C-shaped não é apenas uma questão de habilidade técnica, mas de estratégia. A análise minuciosa da tomografia, o uso de recursos modernos de instrumentação e irrigação, além de uma obturação bem planejada, são fatores decisivos para o sucesso do tratamento.

Relato de caso

Paciente do sexo feminino, 36 anos de idade, foi encaminhada para realização de tomografia com o objetivo de avaliação endodôntica do dente 46.

Durante a análise do exame, no entanto, foi possível identificar uma variação anatômica no dente 47: a presença de um canal radicular do tipo C-shaped, evidenciado nos cortes axiais.

🔎 Achados tomográficos

No dente 47, observou-se a presença de raízes fusionadas pela porção vestibular, característica comum em casos de canal tipo C. Já com as guias posicionadas em proximidade com a cortical lingual, é possível identificar com clareza a individualização das raízes mesial e distal, bem definidas.

A análise do sistema de canais radiculares revelou um padrão morfológico variável ao longo da raiz:

  • C2 na região cervical (formato de ponto e vírgula),

  • C1 do terço médio até o terço apical (formato contínuo em “C”),

  • Finalizando em uma única saída foraminal.

Essa progressão evidencia o comportamento dinâmico e imprevisível do canal C-shaped, que pode alterar sua configuração no decorrer da raiz, reforçando a importância da avaliação tridimensional em toda a extensão do elemento.

ESCRITO PELA DRA. BEATRIZ MOTOYAMA 

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