Por Drª Maria Beatriz Carrazzone Cal Alonso
Olá radiológicos odontológicos! É um prazer e uma honra poder trazer aqui no Blog Radio Memory esse assunto muito importante e mais do que atual que é a Inteligência Artificial.
E eu vou começar nossa conversa perguntando: Você já está preparado para a I.A.? Sabemos que este tema tem despertado o interesse da classe em geral, gerando muitas dúvidas e incertezas. Mas calma, este artigo vai te ajudar a entender melhor do que se trata essa “nova realidade” e a se preparar para ela. Afinal, um profissional consciente está sempre atento às mudanças, o que o permite cada vez mais otimizar o planejamento e a organização da sua metodologia de trabalho, bem como a sua rotina clínica.
Marie Currie uma vez disse: “Nada na vida é para ser temido, apenas entendido”. Então, para chegarmos ao entendimento desse assunto em especial, vamos esclarecer três pontos principais: o que é a I.A., como ela vem sendo utilizada na radiologia odontológica e como proceder com os avanços relacionados à essa tecnologia sem o receio de perdermos espaço como humanos.
O que é Inteligência Artificial?
Inteligência Artificial engloba o ramo da ciência da computação que estuda sistemas desenvolvidos para serem capazes de aprender e armazenar conhecimento (Braga et al., 2018; Lu H et al., 2018). Esses sistemas computacionais passam, desse modo, a processar as informações de forma a tomarem decisões similares ao pensamento humano, deliberando e decidindo de forma racional e inteligente acerca de uma questão específica (Jackson, 2019).
As ferramentas de I.A. foram aprimoradas nas últimas décadas e, atualmente, estão disponíveis para muitas áreas, incluindo a da saúde. A aplicação da tecnologia nessa área em especial vêm ganhando grande destaque, pois agrega facilidade a serviços que, quando executados por humanos, podem ser muito custosos. Tais ferramentas muito auxiliam nos processos de diagnóstico e tratamentos, principalmente aqueles extremamente metodológicos, minuciosos e, por vezes, vagarosos (Sabbatini, 2018).
Outro campo promissor para aplicação da I.A. é a Educação em saúde. A educação médica e odontológica foca o atendimento ao paciente, o que requer conhecimentos específicos, habilidades de comunicação, aprendizagem baseada na prática, profissionalismo e prática baseada em sistemas. Nesse contexto, parte significativa de qualquer educação médica e odontológica é baseada em memorização, que tende a ser demorada. Mas hoje algumas dessas tarefas podem ser tratadas e delegadas a plataformas baseadas em I.A. Assim, um treinamento baseado em I.A. na educação em saúde pode ser muito enriquecedor para o currículo de estudantes/profissionais, à medida em que os capacita na utilização de ferramentas capazes de compreender princípios e resolver problemas clínicos reais quase que automaticamente (Senbekov M et al., 2020).
Inteligência Artificial na Radiologia Odontológica
Podemos inferir que a crescente utilização de inteligência artificial na radiologia odontológica é um dos produtos do avanço da Radiologia Digital. Esta passou por uma fase de apresentação e incorporação às metodologias de trabalho, assim como por um processo de aceitação por muitos profissionais. O mesmo caminho, ou similar, deverá ser percorrido pelos aplicativos de I.A. até a sua popularização.
Recentemente, um artigo científico publicado na revista internacional National Library of Medicine analisou a confiabilidade e eficiência do CEFBOT, componente que utiliza inteligência artificial. Desenvolvido pela Radiomemory para a marcação de pontos cefalométricos na telerradiografia lateral, o sistema auxilia e aprimora a atividade humana no processo de identificação dos pontos anatômicos, trazendo agilidade na avaliação e diagnóstico odontológico. No estudo publicado, as mesmas radiografias foram analisadas por um examinador humano treinado e pelo CEFBOT. Para ambos os métodos, as anotações e medições dos pontos de referência não foram estatisticamente diferentes. Como resultado, o CEFBOT foi reconhecido como uma ferramenta promissora para o aprimoramento das capacidades de Radiologistas humanos, comprovando a sua eficácia.
Assim, a utilização da I.A. se mostra capaz de levar o radiologista odontológico a uma melhor visão do trabalho realizado, a fim de minimizar possíveis erros, bem como o tempo de prestação de serviços, ponto muito importante para o fluxo de trabalho numa clínica, onde a organização e o planejamento do tempo de trabalho são fundamentais.
Como proceder
O terceiro aspecto para o qual devemos nos atentar é como proceder com os avanços relacionados à I.A. e aos demais recursos inteligentes que estão sendo desenvolvidos. Antes de tudo, precisamos compreender que a inteligência artificial já está introduzindo mudanças fundamentais na prática da radiologia médica e odontológica, e que já tem perspectiva de melhorias em processos nas áreas de Educação em saúde e de atendimentos à população. Dessa forma, esses avanços tecnológicos inteligentes já estão atuando entre nós, promovendo a otimização e o aperfeiçoamento de funções cujo profissional específico é responsável, e não para ocupando o seu espaço. A implementação de ferramentas de I.A. não visa a substituição do trabalho humano pela tecnologia, mas a utilização da mesma de forma consciente e responsável.
As capacidades de percepção e cognição aguçadas, a criatividade e a experiência na área tornam o radiologista um profissional insubstituível no desenvolvimento das suas funções. Assim, somos responsáveis por estar à frente da I.A. e demais tecnologias, comandando, direcionando, reorganizando. Nós manipulamos máquinas, sistemas e programas, e não o contrário.
Sendo assim, é fundamental não negar a chegada dessas tecnologias, e entender que elas estão ao nosso favor. É necessário que sejamos capazes de combater a nossa própria resistência ao novo, pois todos temos a ganhar, tanto profissionais quanto pacientes. Estamos construindo o futuro quando nos utilizamos das capacidades e aplicabilidades dos sistemas de informação. Por meio da I.A., poderemos atuar com mais segurança, responsabilidade e agilidade na radiologia odontológica.
Seja um profissional esclarecido, consciente e responsável. Vamos juntos.
Abraços!
Referências bibliográficas:
Braga, A.V.,et al. Inteligência Artificial na Medicina.(2018). Anais do Congresso Internacional de Pesquisa,Ensino e Extensão–CIPEEX, 2, 937-941. Setembro 02, 2019, from: http://anais.unievangelica.edu.br/index.php/CIPEEX/article/view/2997
Gore JC. Artificial intelligence in medical imaging. Magn Reson Imaging. 2020 May;68:A1-A4. doi: 10.1016/j.mri.2019.12.006. Epub 2019 Dec 16. PMID: 31857130.
Jackson, P.C. (2019). Introduction to artificial intelligence. Courier Dover Publications.
Lu, H., Li, Y., Chen, M., Kim, H.& Serikawa, S. (2018). Brain intelligence: go beyond artificial intelligence. Mobile Networks and Applications, 23(2), 368-375.doi: 10.1007/s11036-017-0932-8.
Sabbatini, R.M.E. Aplicações da inteligência artificial na radiologia. 2018.
Senbekov M, Saliev T, Bukeyeva Z, Almabayeva A, Zhanaliyeva M, Aitenova N, Toishibekov Y, Fakhradiyev I. The Recent Progress and Applications of Digital Technologies in Healthcare: A Review. Int J Telemed Appl. 2020 Dec 3;2020:8830200. doi: 10.1155/2020/8830200. PMID: 33343657; PMCID: PMC7732404.
Watanabe & Arita. Imaginologia e Radiologia Odontológica. ELSEVIER. 2ª ed
White & Pharoah. Radiologia Oral. Princípios e Interpretação. 7ª ed.
